sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O meu fim

Olho para a pilha de papéis em cima da minha mesa e sinto uma preguiça inexplicavelmente maior que todas as outras que já me atacaram. Eu só quero que as próximas duas horas passem logo, para que eu possa pegar a minha bolsa e ir para casa. Sim, eu tenho uma casa. Tá, é um apartamento, e é bem pequeno. E também não é meu, pronto, admiti, mas sou eu quem pago o aluguel e faço o que bem entendo lá dentro. Satisfeito?
Mas ainda faltam duas horas e eu quase não consigo esperar. A única coisa que me fez superar meu sono hoje de manhã para vir trabalhar foi lembrar que hoje é sexta-feira. O que significa que amanhã vou poder dormir o quanto eu quiser. E vou ter tempo para ficar mais um pouquinho nos meus sonhos e na minha casinha verde, brincando com a minha cachorra e papeando com as minhas amigas no MSN.
E enquanto eu fico aqui, sem nada de interessante pra fazer, eu lembro que as horas não passam porque quanto mais se olha para o relógio, mais devagar o tempo passa. E eu continuo esperando. Porque eu estou sempre à espera do fim. Do fim do expediente, do fim-de-semana, do fim do mês, do fim do ano, do fim dessa dor que às vezes me consome e me faz perder o ar. Essa dorzinha que me faz ir dormir mais cedo ou pegar um livro para não pensar em bobagens. Não há nada como uma boa história quando eu estou meio cansada da vida. Eu leio sem parar. Mergulho nas páginas, nas palavras, em cada letra. Eu sinto o sofrimento das personagens. E eu releio aquelas linhas tristes para sentir mais um pouquinho aquele aperto no peito e aquela vontade de vomitar.
Mas quando o livro acaba eu não tenho para onde ir. Mais um fim que chega, e eu não sei o que fazer com ele.

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