Após ler "Precisamos Falar sobre o Kevin" pela segunda vez, resolvi dissertar sobre alguns pontos desta instigante e perturbadora obra. O livro, escrito por Lionel Shriver, conta a história de um garoto chamado Kevin, que matou várias pessoas na escola onde estudava, três dias antes de completar dezesseis anos. Quem faz o relato da vida de Kevin, mesmo antes de ele vir ao mundo, é sua mãe, Eva, através de cartas escritas ao marido, pai do garoto.
Eva fala de sua própria infância e dos problemas de sua família; depois sobre as viagens que fazia em função de seu trabalho, já na idade adulta; e sobre seu perfeito casamento com Franklin, quem, mais tarde, viria a se tornar o pai de seus dois filhos, Kevin e Celia. As dúvidas e medos sobre ser mãe e ter de dar adeus à vida que levava antes de ter seu primogênito, o repúdio que o filho sentiu do leite de Eva assim que foi colocado em seu peito pela primeira vez, o jeito como ele chorava no berço parecendo estar possuído por uma fúria sem sentido e os pequenos "acidentes" que aconteciam com outras crianças quando Kevin estava presente são citados ao longo das cartas, levando-nos a refletir sobre questões como "Crianças já nascem más?"; "É possível odiar o próprio filho?" ou "Se um garoto vira um psicopata, a mãe é a culpada?".
Já existem estudos comprovando que a personalidade de uma pessoa não é formada apenas pelo tipo de criação que ela teve ao longo da vida. Quem não conhece histórias sobre meninos que tinham uma família perfeita e caíram nas drogas, ou mulheres que cresceram em orfanatos e hoje são ótimas mães? Estes fatos mostram que os filhos não são totalmente "moldáveis". É claro que boa parte depende sim, da educação que a pessoa recebeu quando criança, do modo como foi tratada pelos pais, dos amigos, da mídia, da escola, enfim, das influências externas. Mas como explicar comportamentos bizarros de adolescentes como Kevin, que teve amor, atenção e compreensão dos pais desde que nasceu? Kevin era extramente inteligente, sadio, rico, bem tratado pelos familiares e professores. Mas ele simplesmente parecia, desde pequeno, não querer estar vivo.
Intrigada com o romance, fui debater o assunto com um médico psiquiatra, que trabalhou durante muitos anos com psiquiatria infantil. Ele me explicou que boa parte da personalidade de um ser humano vem da carga genética (seria esta "carga genética" aquilo que outros chamam de "alma"?), ou seja, os bebês já nascem com várias características que não podem ser mudadas. Existem crianças psicóticas, homossexuais, bandidas, assassinas... E nem sempre existem motivos que justifiquem seu jeito de ser, como maus tratos ou abuso sexual. Elas simplesmente nascem assim. Mas por quê? Será que a índole dessas crianças estaria relacionada com as vidas anteriores? É um mistério que talvez jamais venha a ser desvendado.
Mas uma das coisas em que acredito é que as crianças, às vezes, precisam saber que os pais tem outras coisas muitas importantes na vida além dos filhos. É preciso que o pai e a mãe mostrem à criança que eles têm vidas independentes, outras prioridades e atividades. Além de passar um bom exemplo aos filhos, os pais estarão contribuindo, assim, para que eles desejem sua própria independência. Não adianta ficar 24 horas por dia à disposição dos filhos, tampouco fingir que tudo está sempre bem. Se um pai é atencioso e sorridente ao extremo, mimando o filho e sempre deixando que ele saia impune quando faz algo errado, a criança sente que seu genitor não está sendo autêntico, o que pode deixá-la realmente frustrada. Se uma mãe passa os dias em casa, em função do filho, fechando-se para outros projetos, a criança pode se sentir um fardo ou até mesmo passar a odiá-la, achando que a mãe simplesmente não sabe, ou não quer, fazer mais nada.
Portanto, se seu filho ou sua filha não é como você gostaria que fosse, ou como você pensa que deveria ser, não se culpe. Se você achar que a culpa foi sua por não ter sido uma boa mãe, por exemplo, poderá culpar também a sua mãe, já que ela a criou. Sua mãe poderá culpar a mãe dela, e assim por diante. Não caia nessa. Os filhos não são dos pais... nem os pais são dos filhos.
Eva fala de sua própria infância e dos problemas de sua família; depois sobre as viagens que fazia em função de seu trabalho, já na idade adulta; e sobre seu perfeito casamento com Franklin, quem, mais tarde, viria a se tornar o pai de seus dois filhos, Kevin e Celia. As dúvidas e medos sobre ser mãe e ter de dar adeus à vida que levava antes de ter seu primogênito, o repúdio que o filho sentiu do leite de Eva assim que foi colocado em seu peito pela primeira vez, o jeito como ele chorava no berço parecendo estar possuído por uma fúria sem sentido e os pequenos "acidentes" que aconteciam com outras crianças quando Kevin estava presente são citados ao longo das cartas, levando-nos a refletir sobre questões como "Crianças já nascem más?"; "É possível odiar o próprio filho?" ou "Se um garoto vira um psicopata, a mãe é a culpada?".
Já existem estudos comprovando que a personalidade de uma pessoa não é formada apenas pelo tipo de criação que ela teve ao longo da vida. Quem não conhece histórias sobre meninos que tinham uma família perfeita e caíram nas drogas, ou mulheres que cresceram em orfanatos e hoje são ótimas mães? Estes fatos mostram que os filhos não são totalmente "moldáveis". É claro que boa parte depende sim, da educação que a pessoa recebeu quando criança, do modo como foi tratada pelos pais, dos amigos, da mídia, da escola, enfim, das influências externas. Mas como explicar comportamentos bizarros de adolescentes como Kevin, que teve amor, atenção e compreensão dos pais desde que nasceu? Kevin era extramente inteligente, sadio, rico, bem tratado pelos familiares e professores. Mas ele simplesmente parecia, desde pequeno, não querer estar vivo.
Intrigada com o romance, fui debater o assunto com um médico psiquiatra, que trabalhou durante muitos anos com psiquiatria infantil. Ele me explicou que boa parte da personalidade de um ser humano vem da carga genética (seria esta "carga genética" aquilo que outros chamam de "alma"?), ou seja, os bebês já nascem com várias características que não podem ser mudadas. Existem crianças psicóticas, homossexuais, bandidas, assassinas... E nem sempre existem motivos que justifiquem seu jeito de ser, como maus tratos ou abuso sexual. Elas simplesmente nascem assim. Mas por quê? Será que a índole dessas crianças estaria relacionada com as vidas anteriores? É um mistério que talvez jamais venha a ser desvendado.
Mas uma das coisas em que acredito é que as crianças, às vezes, precisam saber que os pais tem outras coisas muitas importantes na vida além dos filhos. É preciso que o pai e a mãe mostrem à criança que eles têm vidas independentes, outras prioridades e atividades. Além de passar um bom exemplo aos filhos, os pais estarão contribuindo, assim, para que eles desejem sua própria independência. Não adianta ficar 24 horas por dia à disposição dos filhos, tampouco fingir que tudo está sempre bem. Se um pai é atencioso e sorridente ao extremo, mimando o filho e sempre deixando que ele saia impune quando faz algo errado, a criança sente que seu genitor não está sendo autêntico, o que pode deixá-la realmente frustrada. Se uma mãe passa os dias em casa, em função do filho, fechando-se para outros projetos, a criança pode se sentir um fardo ou até mesmo passar a odiá-la, achando que a mãe simplesmente não sabe, ou não quer, fazer mais nada.
Portanto, se seu filho ou sua filha não é como você gostaria que fosse, ou como você pensa que deveria ser, não se culpe. Se você achar que a culpa foi sua por não ter sido uma boa mãe, por exemplo, poderá culpar também a sua mãe, já que ela a criou. Sua mãe poderá culpar a mãe dela, e assim por diante. Não caia nessa. Os filhos não são dos pais... nem os pais são dos filhos.
Um comentário:
Acho que vou querer ler este livro ;)
Postar um comentário