- Você já fez algo que seus pais não aprovariam quando tinha a minha idade? - Ela me perguntou da última vez em que a vi. Foi assim que iniciamos nossa conversa e eu não poderia mentir. Não para ela. Queria que ela me visse como um exemplo, então resolvi falar a verdade. Falei dos locais perigosos, dos homens mais velhos, do linguajar chulo de que eu gostava tanto. Contei que adorava me arriscar, de fazer coisas proibidas, pois isso fazia com que eu me sentisse mais velha. Mais esperta, mais corajosa, mais madura. Enquanto minhas colegas se divertiam namorando sério aos 13 anos, eu gostava de aventuras totalmente diferentes. Nem sempre saudáveis, eu sei. Mas eu precisava contar a ela. Precisava contar por quê aquilo me dava prazer. Embora eu não gostasse de falar sobre o assunto, ela conseguiu arrancar aquilo de mim. Os segredos que eu guardava a sete chaves, que eu pretendia jamais contar a ninguém, nem mesmo aos meus filhos.
Mas ela era diferente. Ela precisava de mim. Ela precisava realmente de mim. De mim inteira, não pela metade. Talvez mais de mim do que de uma mãe, uma prima, uma irmã. Eu queria protegê-la. Juro que queria. Mas, ao contar minhas experiências, não sabia se estava fazendo bem ou mal a ela. Eu tentava não julgá-la e esperava o mesmo dela em relação a mim. Eu a amava e não sabia o motivo. E eu nunca disse isso a ela. Mas eu a amava do meu jeito. Eu desejava sentá-la em meu colo e escovar seus longos cabelos negros. Contar que eu havia tido sorte - mas ela não deveria se arriscar. O destino dela poderia ser diferente. Era tudo muito particular. Ela vivia sua adolescência em um mundo totalmente diferente do meu. Cada dia da vida dela já era um risco.
Eu disse que ela podia confiar em mim e fazia perguntas, mas ela se calava. Eu deveria ter percebido. Não éramos da mesma família e eu não a vira crescer. Eu a conhecia havia pouco tempo. Mesmo assim me sentia responsável por ela. Eu era a única que conseguia vê-la... mas não pude realmente enxergá-la. Ela merecia pessoas melhores em sua vida. Eu não fui suficiente para ela. Sinto que poderia ter feito algo para evitar o que aconteceu. Mas eu não fiz nada. Eu apenas ansiava por nossos encontros e tentava orientá-la. Dizia para ela não ficar sozinha com homens adultos. Para não pedir desculpas a toda hora. Para tentar conversar antes de partir para a violência. Para me contar sobre sua família. Eu disse tanta coisa - e no final das contas nada adiantou. Não consegui deixá-la totalmente segura de si para que ela se abrisse comigo.
Ela era uma garota fechada. Raramente sorria. Mas sua beleza era radiante. Seu corpo começava a se transformar e ela tinha pensamentos confusos. Seus seios estavam crescendo, seu quadril alargando, sua cintura afinando. Assim como seu corpo, mudaram os pontos de vista das pessoas em relação a ela. Eu perguntava se estavam fazendo alguma coisa com ela, mas ela sempre negava. "Olhe para mim", eu dizia. E ela me olhava para continuar dizendo não. Mesmo com aqueles olhos tão bonitos seu olhar era vazio. Era como se ela não tivesse alma. Como se tivessem roubado tudo de bonito, de puro, de vivo que existia nela. Eu não podia mais deixar que aquilo acontecesse. Ela era tão jovem! Eu queria salvá-la... mas como fazer isso se eu não tinha nenhuma certeza, nenhuma prova? Se ao menos ela me contasse algo... Mas não. Ela sempre aparecia sem nada de novo para contar. Sempre dizia que estava tudo bem na escola, em casa, na vizinhança. Eu tinha o direito de não acreditar nela?
Eu deveria ter duvidado daquelas respostas vagas. Deveria ter insistido com as perguntas até que ela confessasse. Eu deveria tê-la proibido de ir embora. Talvez assim eu tivesse conseguido poupá-la. Ela era apenas uma menina. Quantas vezes eu me pegava observando-a e pensando "Com 13 anos eu ainda brincava de boneca"... Mas eu aparentava minha idade naquela época - ou até menos. Já ela não. Era alta, tinha ombros largos e um ar confiante. Era muito bonita. Sua beleza chamava atenção e a deixava envergonhada. Ela pedia desculpas. Como alguém pode pedir desculpas por uma coisa assim? Ela achava que era a culpada pelo modo como os outros a olhavam. Eu dizia que não precisava se desculpar, mas ela não perdia a mania.
Se eu pudesse vê-la de novo, nem que fosse apenas por alguns instantes, eu diria a ela que eu sinto muito. Eu deveria tê-la ajudado, mas não a ajudei. E agora não tem como voltar atrás. Ela não está mais aqui. Ela não existe mais. Ah, minha doce menina dos cabelos negros... Será que você me amou assim como eu lhe amei? Será que você percebeu o amor que eu tinha por você? Um amor puramente espiritual, fraternal, talvez materno, embora houvesse apenas nove anos de diferença de idade entre nós? Eu a amei como jamais pensei que fosse possível amar uma desconhecida.
Talvez ela fosse apenas uma garota muito triste. E, hoje, eu sou uma mulher triste por não ter conseguido libertá-la de sua própria tristeza.
Mas ela era diferente. Ela precisava de mim. Ela precisava realmente de mim. De mim inteira, não pela metade. Talvez mais de mim do que de uma mãe, uma prima, uma irmã. Eu queria protegê-la. Juro que queria. Mas, ao contar minhas experiências, não sabia se estava fazendo bem ou mal a ela. Eu tentava não julgá-la e esperava o mesmo dela em relação a mim. Eu a amava e não sabia o motivo. E eu nunca disse isso a ela. Mas eu a amava do meu jeito. Eu desejava sentá-la em meu colo e escovar seus longos cabelos negros. Contar que eu havia tido sorte - mas ela não deveria se arriscar. O destino dela poderia ser diferente. Era tudo muito particular. Ela vivia sua adolescência em um mundo totalmente diferente do meu. Cada dia da vida dela já era um risco.
Eu disse que ela podia confiar em mim e fazia perguntas, mas ela se calava. Eu deveria ter percebido. Não éramos da mesma família e eu não a vira crescer. Eu a conhecia havia pouco tempo. Mesmo assim me sentia responsável por ela. Eu era a única que conseguia vê-la... mas não pude realmente enxergá-la. Ela merecia pessoas melhores em sua vida. Eu não fui suficiente para ela. Sinto que poderia ter feito algo para evitar o que aconteceu. Mas eu não fiz nada. Eu apenas ansiava por nossos encontros e tentava orientá-la. Dizia para ela não ficar sozinha com homens adultos. Para não pedir desculpas a toda hora. Para tentar conversar antes de partir para a violência. Para me contar sobre sua família. Eu disse tanta coisa - e no final das contas nada adiantou. Não consegui deixá-la totalmente segura de si para que ela se abrisse comigo.
Ela era uma garota fechada. Raramente sorria. Mas sua beleza era radiante. Seu corpo começava a se transformar e ela tinha pensamentos confusos. Seus seios estavam crescendo, seu quadril alargando, sua cintura afinando. Assim como seu corpo, mudaram os pontos de vista das pessoas em relação a ela. Eu perguntava se estavam fazendo alguma coisa com ela, mas ela sempre negava. "Olhe para mim", eu dizia. E ela me olhava para continuar dizendo não. Mesmo com aqueles olhos tão bonitos seu olhar era vazio. Era como se ela não tivesse alma. Como se tivessem roubado tudo de bonito, de puro, de vivo que existia nela. Eu não podia mais deixar que aquilo acontecesse. Ela era tão jovem! Eu queria salvá-la... mas como fazer isso se eu não tinha nenhuma certeza, nenhuma prova? Se ao menos ela me contasse algo... Mas não. Ela sempre aparecia sem nada de novo para contar. Sempre dizia que estava tudo bem na escola, em casa, na vizinhança. Eu tinha o direito de não acreditar nela?
Eu deveria ter duvidado daquelas respostas vagas. Deveria ter insistido com as perguntas até que ela confessasse. Eu deveria tê-la proibido de ir embora. Talvez assim eu tivesse conseguido poupá-la. Ela era apenas uma menina. Quantas vezes eu me pegava observando-a e pensando "Com 13 anos eu ainda brincava de boneca"... Mas eu aparentava minha idade naquela época - ou até menos. Já ela não. Era alta, tinha ombros largos e um ar confiante. Era muito bonita. Sua beleza chamava atenção e a deixava envergonhada. Ela pedia desculpas. Como alguém pode pedir desculpas por uma coisa assim? Ela achava que era a culpada pelo modo como os outros a olhavam. Eu dizia que não precisava se desculpar, mas ela não perdia a mania.
Se eu pudesse vê-la de novo, nem que fosse apenas por alguns instantes, eu diria a ela que eu sinto muito. Eu deveria tê-la ajudado, mas não a ajudei. E agora não tem como voltar atrás. Ela não está mais aqui. Ela não existe mais. Ah, minha doce menina dos cabelos negros... Será que você me amou assim como eu lhe amei? Será que você percebeu o amor que eu tinha por você? Um amor puramente espiritual, fraternal, talvez materno, embora houvesse apenas nove anos de diferença de idade entre nós? Eu a amei como jamais pensei que fosse possível amar uma desconhecida.
Talvez ela fosse apenas uma garota muito triste. E, hoje, eu sou uma mulher triste por não ter conseguido libertá-la de sua própria tristeza.